Convivendo mais de metade da vida com Diabetes Tipo 1 e, depois de alguma (nunca a suficiente) evolução na qualidade de informação disponibilizada sobre a doença, novas tecnologias de controlo e com a abertura da comunidade médica a novas abordagens, acredito ser mais benéfico adaptar as nossas rotinas à doença do que condicionar o nosso comportamento a tudo o que nos rodeia.
Nada fiz para ter a doença, o meu corpo simplesmente “decidiu” atacar as células beta do meu pâncreas, fazendo com que deixasse de produzir insulina, a hormona que permite que o corpo utilize glucose para produzir energia, regula o metabolismo dos macronutrientes, entre outras funções.
O sintoma principal da DT1 é a subida da glicose no sangue e o seu tratamento passa por medir regularmente os níveis de glicose no sangue e, fazer injeções de insulina, de acordo com os níveis do mesmo.
Há um conjunto vastíssimo de fatores que influenciam a glicose no sangue. O treino é apenas um deles. A grande vantagem do treino é que conseguimos planear e adaptar de forma a prever o comportamento da glicose.
A pessoa com DT1 que treina regularmente, deve ter especial atenção ao antes e ao após o treino. Os níveis de glicose no sangue (medido em mg/DL), deverão idealmente, situar-se entre os 90-120 (para a pessoa saudável). Hoje em dia, priorizando a comunidade médica na gestão da diabetes tipo o tempo passado em hiperglicemia (níveis elevados de glicose) em hipoglicemia (níveis baixos de glicose), e o tempo dentro do “normal” - anulando os intervalos intermédios – podemos considerar os valores fora destes extremos, os que se situam entre 75-160mg/DL.
Conhecer o nosso corpo e estar atento a padrões de comportamento da glicémia em diversas situações do dia a dia, vai ajudar a que a DT1 interfira o menos possível na rotina de treino.
Tomando o meu exemplo para este artigo. Sabendo eu que tenho tendência a ter uma diminuição dos níveis de glicose a meio do treino, com probabilidade de chegar à hipoglicémia, faço ingestão de hidratos de carbono simples a meio do treino e, desta forma adapto a parte alimentar para não ter de fazer adaptações no treino.
Os diferentes “tipos” de treino têm, à partida, diferentes efeitos na glicose no sangue. Numa abordagem simples e generalista podemos afirmar que, o treino aeróbio (em especial, cardio a um ritmo contínuo) tende a provocar uma diminuição da glicose, o treino de força (intenso) pode provocar subidas na glicose (causado pelas hormonas de stress que provocam a libertação das reservas de glicose do fígado e/ou pela degradação de glicogénio dos músculos) e o “mixed modal” (CrossFit, treino intervalado, etc) pode ter um pouco de ambos, dependendo dos movimentos. Nada é taxativo, cada pessoa com DT1 pode reagir de forma diferente ao treino, pelo que, o fundamental é mesmo fazer as medições da glicose antes, durante e após a sessão de treino, ir monitorizando a evolução dos padrões e fazer os ajustes necessários.
Saber a tendência da glicose é fulcral para prevenir picos de glicose. Exige alguma dedicação, é verdade. Mas os benefícios de ter uma rotina consistente de prática de exercício é benéfico para as pessoas com DT1 e para a gestão da sua doença. Não porque seja impossível fazer essa boa gestão sem treinar, mas sim porque praticar exercício físico trás benefícios para a saúde em geral e, uma pessoa com DT1 estará sempre em melhores condições de prevenir complicações derivadas da doença se treinar, da mesma forma que uma pessoa “saudável” previne problemas futuros se treinar.
Nunca suportei a a ideia existe, quando se fala de DT1, de focar toda a atenção nos aspetos negativos e, quero provar que se pode fazer uma vida completamente normal com a doença.
A vida de alguém com DT1 vai sempre provocar encontros com momentos de completo bem estar físico e mental mas também com momentos de frustração, revolta, tristeza e burnout.
Em diversos momentos já senti isso interferir com outros aspetos da minha vida e, também com o treino. É normal, pelo papel que a insulina tem no organismo, que treinos corram melhor ou pior por causa da doença. Já deixei treinos a meio, já fiz pausas mais ou menos prolongadas na minha rotina, mas nunca quis parar. O treino ajuda-me física e mentalmente a enfrentar o meu dia a dia.
O importante é haver motivação para não deixar que a DT1 seja um entrave nas decisões que tomamos e nos objectivos que definimos. Ainda que possamos falhar, o importante é não parar antes sequer de agir. Motivação não é ter vontade de fazer alguma coisa, nem o acto de fazer essa mesma coisa. A motivação é o que tem de existir entre o pensar fazer e o fazer. É o exacto momento em que - depois de assumir que queremos algo – efetivamente decidimos agir para prosseguir esse objectivo. E fazê-lo sem olhar para trás.
Para a pessoa que vive com a doença os meus conselhos neste contexto são:
não se deixar limitar na escolha do exercício, desporto, etc. por causa da DT1.
Não ter inibições de querer treinar com o foco principal em objectivos que não são o de gerir melhor a doença – seja perder massa gorda, ganhar massa muscular, melhorar a performance, gerir o stress, etc.
Deixar o ego de lado e não hesitar em alterar ou adaptar o treino, diminuir a intensidade ou parar, se a dado momento sentir que é necessário.
Rodear-se de pessoas que querem o melhor de nós e olham para nós além da doença.
Esperando que este testemunho ajude a desmistificar mais um pouco a Diabetes Tipo 1, em especial no contexto do exercício físico, resta-me deixar um último conselho transversal a toda a gente – foquem-se nas coisas positivas, não tenham medo de prosseguir os vossos objectivos e concretizar os vossos sonhos, ainda que (aparentemente) egoístas. Tratem-se bem, criem memórias felizes com as pessoas de quem gostam, foquem-se nas coisas positivas, não tenham medo de prosseguir os vossos objectivos e concretizar os vossos sonhos, ainda que (aparentemente) egoístas e, se o podem fazer já, façam-no já!
Se tens DT1 e queres melhorar a tua qualidade de vida, vem treinar connosco. Temos treinadores preparados para te orientar, antes, durante e depois do treino. Fala connsco aqui.
CrossFit L1 Trainer CrossFit Leça da Palmeira
Certified PT / Fitness Coach & Healthcare Advocate
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